Um pouco sobre a bruxaria eclética
- Vitoria Tifani
- 4 de dez. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 30 de ago.

A bruxaria eclética tem se popularizado no Brasil ao longo dos anos e é uma via rica em manifestações, pois não limita seus praticantes a escolher apenas uma linha para guiar seus estudos. Como assim?
Na prática, podemos transitar por várias vertentes da bruxaria sem que isso cause conflito. Por exemplo, a bruxa eclética pode se basear na astrologia, nas mansões lunares e em práticas estelares para coletar determinada erva que será usada na criação de um incenso planetário, seguindo correspondências de antigos alquimistas e magos. Há livros, como o Magus, que contêm correspondências específicas para incensos ligados a cada planeta e signo. Ao depender da linha de preferência de estudos da bruxa eclética, as cores das velas podem mudar em seu altar ou práticas.
A bruxa eclética é livre para explorar tradições e práticas diversas, combinando conhecimentos ancestrais com elementos modernos, criando uma prática personalizada e coerente (vou bater na tecla da coerência várias vezes ao longo deste texto).
Não sendo algo obrigatório, muitas bruxas ecléticas trazem a filosofia hermética em seu cotidiano para se conectar aos movimentos externos e internos em busca de maior sabedoria. Os textos herméticos auxiliam não apenas no autoconhecimento, mas também no entendimento sobre os povos antigos, sua fé, magia, filosofia, medicina e muito mais. Ao estudar textos herméticos não tratamos apenas de filosofia, mas também de história acerca da magia como a vemos hoje. Textos como, Poimandres, Asclepius, A Tábua Esmeralda e livros como o Corpus Hermeticum Graecum e também o Caibalion são indispensáveis. Ter contato com este material pode nos ajudar a desmistificar crenças limitantes acerca da prática e também a descobrir os erros de tradução do grego para o latim por trás de tais crenças, mas isso é assunto para outro post.
A Kabbalah Hermética é uma ferramenta valiosa para uma bruxa eclética, pois oferece uma estrutura que conecta diversas filosofias espirituais e mágickas. Com a Árvore da Vida como um mapa simbólico, a bruxa compreende e trabalha com as energias do universo de maneira organizada, relacionando elementos, planetas, signos do zodíaco e princípios e virtudes das diferentes esferas e caminhos. Além de enriquecer a prática mágicka e oracular com correspondências elementares, planetárias, alquímicas e muito mais. A Kabbalah Hermética também aprofunda o autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual, permitindo que a bruxa explore os mistérios da criação, equilibre suas energias e se conecte com o divino de forma única e pessoal. Essa flexibilidade e profundidade tornam-na uma aliada poderosa para integrar e harmonizar conhecimentos de diversas tradições em uma prática eclética verdadeiramente transformadora. Se for da vontade dela, outras tradições de Kabbalah/Cabala podem ser estudadas e exploradas, mas mencionei a hermética por trazer a sabedoria de povos como os egípcios, gregos e muitos outros.
Essa abordagem permite que a bruxa una a sabedoria dos zigurates e dos cultos estelares mesopotâmicos ao simbolismo das mansões lunares, juntamente com conhecimentos da bruxaria natural, da bruxaria elemental e seus mundos (mundos que Agrippa descreve em sua obra Três Livros de Filosofia Oculta e que até hoje são usados em diversos segmentos, inclusive na bruxaria). Leia aqui sobre os três mundos de Agrippa
Essa liberdade não é desordem pois a prática requer coerência entre as egrégoras apesar de ser permitido estudar sobre várias vertentes, é uma alquimia pessoal que transforma saberes distintos em uma prática única. A essência da bruxaria eclética está em honrar a diversidade espiritual enquanto se conecta com o propósito individual.
Outra prática comum dentro da bruxaria eclética é a utilização de rituais adaptáveis, moldados conforme a necessidade ou a intenção da bruxa, desde que haja coerência para evitar conflitos de egrégoras. A bruxa eclética ajusta os elementos de um rito, escolhendo ferramentas, símbolos e até tempos astrológicos que melhor se alinhem com seu propósito. Isso pode incluir diferentes tipos de velas, cristais, ervas, ou in/evocações de deidades específicas, baseadas em correspondências astrológicas, mitológicas ou links pessoais.
Essa flexibilidade abre espaço para experimentação e aprofundamento contínuo. A bruxa pode, por exemplo, combinar práticas de meditação com magia ou integrar elementos da bruxaria natural com ensinamentos alquímicos. Ao fazer isso, ela não está apenas criando uma prática única, mas permitindo que seu caminho espiritual evolua de maneira orgânica. Essa liberdade permite que ela se conecte com antigos conhecimentos espirituais enquanto atende às necessidades do mundo moderno e de seus próprios estudos. Porém, isso não se aplicará a roda do ano e suas festividades, a depender da roda escolhida as correspondências devem ser respeitadas segundo a egrégora.
A bruxaria eclética também celebra o respeito ao livre-arbítrio e à individualidade de cada ser. Isso significa que não há uma única "verdade" ou caminho obrigatório a ser seguido. Cada bruxa é incentivada a buscar seu próprio entendimento do divino, explorar o que ressoa com sua alma e criar sua própria visão de espiritualidade. Essa abordagem inclusiva é uma das razões pelas quais a bruxaria eclética continua a atrair tantos praticantes ao redor do mundo, pois permite que cada um caminhe de acordo com seus ritmos e descobertas.
Uma bruxa eclética pode estudar outros sistemas de prática que não sejam bruxaria?
Implicitamente ao longo do texto vemos que sim.
Algumas tradições espirituais impõem restrições aos estudos e práticas de seus adeptos, proibindo-os de explorar outras correntes de conhecimento ou caminhos espirituais. Essas proibições, muitas vezes, têm raízes em dogmas ou sistemas de crenças que buscam manter a pureza ou a coerência interna da tradição. Tais restrições surgem, geralmente, de uma interpretação rígida dos ensinamentos ou de um desejo de preservar a integridade da linhagem espiritual.
A bruxa eclética, por outro lado, é livre para se aprofundar em práticas diversas, incluindo a magia grimorial, estudando antigos grimórios como o Hygromanteia, Thesaurus Magicus e outros. Não é aconselhável adaptar diretamente a liturgia desses grimórios à prática cotidiana de bruxaria, pois isso poderia causar conflitos de egrégoras ou desarmonia nos rituais. É fundamental que haja coerência, respeitando a natureza de cada prática. Ou seja, a bruxa estuda livremente e executa com maestria os sistemas Por exemplo, evocar um anjo com uma conjuração de um grimório que chama pelos nomes de Deus enquanto utiliza um caldeirão consagrado a Hékate seria inadequado. É importante saber separar as práticas quando necessário para evitar choques de egrégora e prejuízos a quem pratica. Porém, elementos como correspondências astrológicas, estelares e aspectos de cultos antigos que influenciaram esses grimórios podem ser aproveitados de forma complementar a prática de bruxaria.
A bruxa eclética reconhece que não existem regras rígidas que decidam o que ela pode ou não estudar. Ela transita entre diversos conhecimentos e utiliza o sistema certo no momento certo, o aprofundamento é necessário para evitar choques. Dessa forma, ela pode integrar estudos de antigos ocultistas ao seu caminho, respeitando as particularidades de cada sistema, sem comprometer a essência de sua prática. Essa liberdade de aprendizado e experimentação é uma das marcas que fazem da bruxaria eclética um caminho dinâmico, enriquecedor e profundamente alinhado com as necessidades e escolhas individuais.
A desaprovação
Muitas tradições desaprovam o ecletismo e eu não lhes tiro a razão, pois apesar da proposta do ecletismo valorizar o estudo profundo de determinados sistemas sem criar choques entre eles, vemos que isso abriu portas para algo perigoso, o tão temido choque de egrégoras que citei ao longo de todo este texto. Este fenômeno ocorre quando sistemas ou práticas que possuem energias e intenções diferentes, quando misturados sem a devida cautela, geram distúrbios e desequilíbrios espirituais. Essas energias podem se chocar, interferir ou até mesmo neutralizar umas às outras, gerando confusão e, em casos mais graves, esgotamento energético, confusão mental e desconexão com o propósito original. O ecletismo, quando mal aplicado, pode cair na armadilha da superficialidade, onde o praticante tenta juntar pedaços de várias tradições sem realmente se aprofundar nas particularidades e na sabedoria de cada uma delas. Esse comportamento, se não for moderado, pode criar uma prática desarticulada e desprovida de um fundamento sólido. Quando não existe uma verdadeira reverência pelo sistema estudado, apenas uma busca por um "mix" de elementos que pareçam interessantes ou poderosos, corre-se o risco de desrespeitar a integridade das tradições e das energias com as quais se está lidando. A prática eclética exige discernimento e maturidade. A bruxa eclética precisa entender as forças que está chamando e se preparar adequadamente para lidar com elas, respeitando tanto os limites de cada sistema quanto as implicações das energias envolvidas. Para isso, a prática do autoconhecimento e do estudo constante se faz fundamental. Estudar de forma superficial é um erro comum entre aqueles que buscam praticar a magia ou o ocultismo sem um aprofundamento genuíno nas tradições que escolhem seguir. Quando alguém mergulha de maneira rasa em sistemas espirituais, sem a devida compreensão de seus fundamentos e de suas energias, o risco de gerar choques de egrégoras se torna alto.
Os choques de egrégoras ocorrem quando diferentes energias ou sistemas espirituais que, em princípio, poderiam ser complementares, entram em conflito devido à falta de alinhamento entre suas intenções ou vibrações. Cada prática carrega consigo um campo energético, ou egrégora, que é gerado pelo estudo, reverência e aplicação das leis que regem aquele sistema. Quando se adota práticas de diferentes linhagens de forma desorganizada, sem um entendimento profundo do que elas representam ou como se interconectam, é possível que essas egrégoras se choquem. O objetivo não é simplesmente coletar informações e rituais de forma aleatória, mas integrar sabiamente os ensinamentos que se conectam com seu propósito pessoal, criando uma prática que seja coesa e harmoniosa. A chave do ecletismo bem-sucedido está em manter uma profunda reverência pelas fontes que se escolhe estudar, ao mesmo tempo em que se preserva uma visão clara e pessoal sobre o que se deseja alcançar com a prática. A bruxa eclética, ao estudar diversas tradições, deve ter o discernimento necessário para evitar as influências conflitantes e, ao mesmo tempo, honrar as energias e as egrégoras que escolher trabalhar, sempre buscando harmonia, equilíbrio e respeito. Por exemplo, ao tentar combinar rituais de diferentes tradições sem considerar as energias das divindades ou as intenções dos rituais, as egrégoras podem ficar desarmoniosas. O praticante pode sentir-se desconectado, exausto ou até mesmo confuso, porque as energias dos sistemas não conseguem se integrar de maneira fluida e coerente. Esse desequilíbrio pode gerar desorientação espiritual e até consequências negativas no campo energético do praticante, já que ele está criando um espaço de tensão energética ao invés de harmonia.
Outro risco de estudar superficialmente é que as pessoas podem cair na tentação de "colher" elementos de várias tradições, sem a devida reverência por cada um deles. Nesse processo, o valor da tradição é desrespeitado, e a energia gerada por ela perde o foco e a potência. Sem uma compreensão sólida, as ferramentas mágickas podem ser usadas de forma ineficaz ou até prejudicial, já que o ato de aplicar algo que não é totalmente compreendido carrega consigo o risco de distorcer sua verdadeira intenção.
Em essência, o estudo superficial não só diminui a eficácia da prática mágicka, como também coloca em risco o equilíbrio energético do praticante. Quando não há uma base sólida, a energia se dispersa, gerando uma instabilidade que pode se refletir de forma prática e emocional. Para evitar esses choques de egrégoras e garantir que o caminho espiritual seja harmônico, é essencial que o praticante se aprofunde no entendimento de cada tradição que deseja explorar, respeitando a integridade dos sistemas e trabalhando com eles de maneira consciente e equilibrada. O estudo profundo e o respeito pelas energias de cada caminho são fundamentais para garantir que a magia seja poderosa, alinhada e benéfica para quem a pratica.
Boa noite,
Poderia dar um exemplo de uma prática utlizando as correspendencias e sistemas? Gratidão