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Foto do escritorVitoria Tifani

Três Livros de Filosofia Oculta - O que saber antes de ler?

A obra de Agrippa "Três Livros de Filosofia Oculta" é uma das mais conhecidas no meio ocultista. Quando nos deparamos com este livro, de início podemos ficar um pouco confusos com tantas informações em um único livro, ou melhor, em três livros unidos em um. A primeira coisa que devemos compreender é que o conteúdo do livro estará divido em três de forma proposital, pois Agrippa separa um mundo em cada livro, formando assim um mundo triplo com interações entre os planos.


Quando Agrippa escreve sobre o Mundo Triplo, ele aborda os três mundos, o mundo elemental, o mundo celestial e o mundo intelectual ou divino, ensinando como estes se interligam e influenciam mutuamente. Para Agrippa, esses mundos formam a base de toda prática esotérica, e é através deles que o magista pode atuar em harmonia com as forças universais, captando suas energias e moldando a realidade de acordo com sua vontade.




O Mundo Elemental: O Reino da Matéria e da Natureza


O primeiro dos três mundos é o Mundo Elemental, onde vivemos e atuamos no plano físico. Este é o mundo regido pelos quatro elementos tradicionais: Terra, Água, Fogo e Ar, que Agrippa associa diretamente às qualidades perceptíveis da natureza e da matéria.


"No mundo elemental estão os corpos físicos e visíveis, que são formados e moldados a partir da combinação dos elementos. Aqui, todas as coisas são sujeitas ao nascimento, crescimento, decadência e morte." (Agrippa, Filosofia Oculta, Livro I)

Este é o mundo das formas concretas, das ações e da mudança constante. Agrippa ensina que o magista deve dominar os princípios que regem os elementos e suas combinações, pois são essas forças que governam a manifestação no plano material. Ao compreender e manipular os elementos, o praticante pode atuar diretamente sobre a matéria, moldando o mundo ao seu redor. Porém, o mundo elemental não existe isoladamente. Ele é influenciado pelas esferas superiores, e é apenas o reflexo mais denso e físico das forças mais sutis que emanam dos mundos superiores.




O Mundo Celestial: O Reino das Estrelas e dos Planetas

Acima do mundo físico está o Mundo Celestial, o domínio das estrelas, dos planetas e das forças astrológicas que regem o destino e influenciam tudo o que acontece no plano elemental. Agrippa descreve esse mundo como o lugar onde as influências astrais e as energias cósmicas estão em constante movimento, determinando os eventos que ocorrem no mundo inferior.


"As estrelas e os planetas, como corpos celestes, são as fontes das influências que governam as mudanças no mundo elemental. Eles não apenas regulam os ciclos naturais, mas também possuem virtudes espirituais que afetam a alma e o espírito." (Agrippa, Filosofia Oculta, Livro II)

Neste mundo, a astrologia se torna uma ferramenta abordada. As influências planetárias são as forças que permeiam a natureza e moldam o caráter, temperamentos, o destino e os eventos na Terra. Por isso, a prática astrológica e o entendimento das correspondências celestes são utilizadas para as operações mágickas. Um magista alinhado com os ritmos dos astros e com as mansões lunares, por exemplo, pode utilizar essas forças para canalizar energias específicas, seja para proteção, prosperidade ou cura.

O Mundo Celestial é também o mundo onde se encontram os anjos, espíritos planetários e entidades cósmicas.




O Mundo Intelectual: O Reino do Espírito e das Ideias Divinas

O terceiro e mais elevado dos mundos é o Mundo Intelectual, o domínio das ideias puras, das essências e da mente divina. Este é o mundo das formas arquetípicas e das verdades eternas, onde reside o puro espírito. Para Agrippa, este é o mundo onde todas as coisas têm sua origem, antes de descerem através dos planos e se manifestarem no mundo físico.


"O mundo intelectual contém as causas primeiras, os arquétipos e as essências das coisas. Aqui estão as inteligências divinas, os anjos e os princípios eternos que ordenam e regulam toda a criação." (Agrippa, Filosofia Oculta, Livro III)

No Mundo Intelectual, encontramos os arquétipos que Platão descreve como as formas ideais – as verdades imutáveis que moldam a realidade. Este é o reino onde as almas e as inteligências espirituais habitam antes de encarnarem no mundo material.

A teurgia, que Agrippa descreve como a mais alta forma de magia, é o caminho que leva o praticante ao Mundo Intelectual. Através da teurgia, o magista busca a união com os seres divinos e os princípios superiores. Aqui, o propósito da magia não é a manipulação das forças materiais, mas a elevação espiritual e o retorno à unidade com o divino.



A Conexão entre os Mundos: Harmonia e Fluxo Cósmico

Agrippa nos ensina que esses três mundos (o Elemental, o Celestial e o Intelectual) não estão separados, mas interligados em uma hierarquia de influências e correspondências. O que acontece no mundo material é reflexo das energias cósmicas e das ideias arquetípicas que emanam dos planos superiores. Cada um desses mundos atua sobre o outro em um ciclo contínuo.


"Todos os mundos estão conectados, e a magia é a arte de mover-se entre eles, unindo o que está acima ao que está abaixo, e trazendo à Terra as virtudes dos céus e das inteligências divinas." (Agrippa, Filosofia Oculta, Livro I)

Agrippa nos deixa uma lição clara: não há separação real entre os mundos. Cada ação que tomamos no mundo físico tem repercussões no cosmos, assim como as forças celestes e espirituais moldam nossa realidade. O verdadeiro mago é aquele que sabe trilhar o caminho entre os mundos, entendendo que, em última análise, todos os mundos são um só, e a magia é a arte de tornar essa unidade visível.


Curiosidades adicionais para compreender a obra e o mundo em que a mesma estava inserida:

Algo evidente em Três Livros de Filosofia Oculta é a integração da cabala e do hermetismo. Agrippa foi fortemente influenciado pela tradição cabalística judaica, especialmente através dos trabalhos de Johannes Reuchlin. A cabala, com seus ensinamentos sobre os Sephiroth, a Árvore da Vida e os Nomes Divinos, é central para a compreensão da magia teúrgica que Agripa defende.


Contexto histórico da obra e da vida de Agrippa

Agrippa escreveu sua obra durante o Renascimento, um período marcado por um ressurgimento do interesse pelas tradições clássicas, pela alquimia, pela cabala e pelas ciências herméticas. Esse foi um tempo em que as fronteiras entre ciência, filosofia e magia eram muito mais fluidas do que nos dias de hoje. Durante o Renascimento, intelectuais como Agrippa viam a magia como uma forma legítima de conhecer e interagir com o universo, uma maneira de acessar verdades superiores que estavam além da matéria.

Nos primeiros anos do século XVI, em Paris, Agrippa adotou o nome von Nettesheim, uma escolha que lhe conferia um ar de nobreza, elevando sua posição social e acadêmica. Durante esse período, ele formou um círculo de estudantes ocultistas, criando uma sociedade dedicada ao estudo profundo da cabala, astrologia e outros ramos da magia. Esses encontros representavam o florescimento do esoterismo renascentista, onde o saber oculto era explorado com fervor intelectual, ciências ocultas.

Em 1509, já em Dôle, Agrippa assumiu o cargo de professor de Hebreu e Teologia. Sua abordagem ousada e não convencional despertou controvérsias, especialmente devido à sua integração de temas ocultos em suas aulas. Além de ministrar ensino tradicional, Agrippa começou a se aprofundar na alquimia, uma área que estava emergindo como campo de pesquisa científico e espiritual. Ele reuniu equipamentos e materiais, lançando-se numa investigação alquímica que explorava a transformação da matéria e a busca pelos segredos da natureza.

No século XVI, o mundo estava no limiar de grandes mudanças. A Reforma Protestante estava se consolidando, trazendo divisões religiosas significativas na Europa. A Igreja Católica exercia controle sobre o conhecimento e a ciência, condenando frequentemente práticas esotéricas como heréticas. Agrippa, ao escrever seus livros, passava por um terreno perigoso, onde o saber mágico podia facilmente ser mal interpretado como uma forma de feitiçaria proibida.

Como dito anteriormente, a Revolução Copernicana também estava em curso, e o conceito do cosmos estava em plena transformação. Agrippa, por isso, viveu em uma época de transição entre uma visão do mundo baseada na metafísica aristotélica e uma nova compreensão científica que surgia, influenciando tanto a filosofia quanto a magia renascentista. Apesar disso, é discutida a informação de que Agrippa morreu cético. Sua obra mais conhecida, Filosofia das Artes Ocultas (ou De Occulta Philosophia), não só consolidou sua reputação no mundo ocultista, como também atraiu a atenção perigosa da Santa Inquisição.

Agrippa foi privilegiado com uma educação extensa que lhe permitiu explorar uma variedade de campos. Sua vida foi marcada por intensos períodos de estudo e prática ocultista, sempre caminhando à sombra da perseguição religiosa. O contato com o abade Johannes Trithemius o inspirou a começar seu trabalho mais famoso, De Occulta Philosophia, mas, sob orientação de Trithemius, Agrippa preferiu esconder seus escritos para evitar maiores retaliações.

Agrippa também se destacou como defensor dos acusados de feitiçaria, tendo atuado como advogado de defesa de uma mulher em Metz, conseguindo absolvição diante de um inquisidor. Este evento marcou sua fama e reforçou sua posição de voz dissidente em um período marcado por temor e superstições.

Embora sua vida tenha sido marcada por perseguições e dificuldades financeiras, o impacto de seus escritos ressoou até figuras como John Dee e Giordano Bruno. Ao longo de sua jornada, Agrippa nunca alcançou estabilidade econômica ou social, mas sua obra se manteve viva, publicando-se postumamente em Lyon e inspirando gerações de ocultistas que vieram após ele.


Em Antuérpia, ganhou fama ao curar vítimas da peste, mas foi impedido de continuar por falta de licença. Posteriormente, tornou-se historiador na corte de Carlos V.

Desde o início de sua carreira, Agrippa enfrentou acusações de heresia, especialmente por suas práticas de magia, alquimia e seus escritos sobre ciências ocultas. Sua visão avançada e suas previsões astrológicas desagradaram tanto à Igreja quanto à nobreza, que viam em seu saber uma ameaça.


Em 1520, Heinrich Cornelius Agrippa estabeleceu-se em Genebra, onde praticava medicina com ervas e poções de sua própria criação. Foi nesse período que se aproximou do luteranismo. Em 1524, foi convidado à corte de Lyon como médico da Rainha Mãe e astrólogo do Rei Francisco I. Após prever a queda do reino em uma leitura astrológica, foi abandonado pela nobreza e deixou Lyon.

As perseguições se agravaram após sua previsão, tal ato o fez cair em desgraça perante a corte de Lyon. Perseguido pela Inquisição e traído por adversários poderosos, Agrippa foi condenado à morte pelo Imperador Carlos V, acusado de heresia. Mesmo assim, com destreza, conseguiu escapar e refugiar-se na França, onde enfrentou nova perseguição, desta vez pelos soldados de Francisco I. Agrippa conseguiu sua libertação, mas passou seus últimos anos fugindo das autoridades, vivendo à margem, sempre assombrado pelas sombras daqueles que o perseguiam por seu conhecimento.


Em 1527, concluiu De incertitudine et vanitate scientiarum, uma obra crítica à vaidade das ciências. Perseguido pela Inquisição, fugiu para a França, onde foi capturado por soldados de Francisco I, mas conseguiu sua libertação. Agrippa desapareceu dos registros após ser visto em Grenoble, em 1535, mas seu legado perdura, com suas obras sendo publicadas e reverenciadas séculos depois.

Agrippa morreu cético?


Heinrich Cornelius Agrippa morreu cético em relação à magia e ao ocultismo, o que pode parecer contraditório considerando a importância de sua obra Três Livros de Filosofia Oculta. Nos últimos anos de sua vida, Agrippa passou por uma profunda transformação pessoal e intelectual, expressando desilusão com os conhecimentos ocultos que ele havia explorado ao longo de sua carreira. Essa mudança de perspectiva culminou em sua obra intitulada Declamação sobre a Vaidade das Ciências e Artes, na qual ele critica duramente não apenas a magia, mas também uma vasta gama de disciplinas acadêmicas e ocultas que haviam sido fundamentais para ele.

Declamação sobre a Vaidade das Ciências e Artes

Agrippa escreveu esta obra nos últimos anos de sua vida, refletindo um ceticismo crescente. Ele não se limitou a criticar a magia, mas também a filosofia, a astrologia, a alquimia, e praticamente todas as formas de saber que antes haviam sido o centro de sua busca pelo conhecimento. Agrippa argumenta que todas essas ciências, no final das contas, são vãs, pois, em sua visão, nenhuma delas pode trazer o verdadeiro conhecimento ou sabedoria definitiva. Ele expressou uma forte desconfiança das práticas ocultas, declarando que a busca pelo poder através do conhecimento esotérico é uma armadilha que leva ao erro e à desilusão.

Agrippa também foi muito crítico da sociedade e das instituições de sua época, incluindo a Igreja. Sua Declamação sobre a Vaidade expressa uma frustração com o uso de todas as formas de conhecimento para manipulação e ganho egoísta. Ele via o uso das ciências e da magia como potencialmente destrutivo quando desvinculado de um propósito espiritual ou ético mais elevado. Alguns estudiosos interpretam esse ceticismo final de Agrippa como uma espécie de autocensura, ou mesmo como uma estratégia de defesa contra a crescente perseguição religiosa e política que ele enfrentava. Em diversos momentos de sua vida, Agrippa foi perseguido pelas autoridades eclesiásticas por suas práticas mágicas e por suas visões heréticas. A virada cética pode ter sido, em parte, uma forma de evitar represálias mais graves, já que as acusações de heresia e feitiçaria eram bastante comuns durante esse período.

Embora Agrippa tenha terminado sua vida como um crítico da magia e das ciências ocultas, seu ceticismo não era completamente nihilista. Ele não abandonou a ideia de que a verdade divina existe e que há um propósito espiritual superior, mas ele se distanciou das práticas esotéricas como um meio de alcançá-la. No lugar de ver a magia como um caminho para a sabedoria, ele passou a considerar que a verdadeira sabedoria só poderia ser encontrada na fé e na graça divina, e não nos esforços humanos de manipular o mundo natural ou espiritual.

Será que este era seu real posicionamento, ou produto das perseguições sofridas?




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