Patricia Crowther: a Alta Sacerdotisa que marcou a Wicca e a bruxaria moderna
- Vitoria Tifani
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Patricia Crowther, nascida Patricia Dawson em 14 de outubro de 1927, em Sheffield, Inglaterra, deixou sua marca como uma das figuras mais influentes da Wicca moderna. Atriz, cantora e dançarina em seus primeiros anos de carreira, ela uniu arte e espiritualidade, transformando sua vida em um testemunho vivo da bruxaria contemporânea. Faleceu em 24 de setembro de 2025, aos 97 anos, e com ela encerra-se um capítulo importante da história da bruxaria iniciática. Desde a infância, Patricia conviveu com o misticismo. Sua bisavó era herbalista e clarividente, e essa herança familiar despertou nela a sensibilidade para os mundos invisíveis. A jovem artista seguiu o caminho do teatro e da música até encontrar, em meados da década de 1950, o mágico e ventríloquo Arnold Crowther, que seria seu parceiro de vida e também de prática espiritual. Foi Arnold quem a apresentou a Gerald Gardner, considerado o fundador da Wicca moderna.

Em 6 de junho de 1960, Patricia foi iniciada na Wicca por Gardner, tornando-se uma das mais respeitadas sacerdotisas de sua geração. Pouco tempo depois, ela própria iniciou Arnold, e juntos formaram um casal que viveria não só o matrimônio civil, mas também o handfasting, casamento ritualístico celebrado no círculo. Em 1961, ambos receberam o segundo grau de iniciação e Patricia foi elevada à posição de Alta Sacerdotisa. Foi nesse mesmo ano que fundaram o Sheffield Coven, que se tornaria um dos grupos mais importantes no desenvolvimento da Wicca britânica.
A notoriedade do casal cresceu rapidamente, não apenas entre praticantes, mas também no público geral. Em uma época em que ainda havia grande preconceito em torno da bruxaria, Patricia e Arnold abriram portas através da mídia. Em 1971, produziram o programa de rádio “A Spell of Witchcraft”, transmitido pela BBC Radio Sheffield, onde apresentavam ao público britânico aspectos da religião e desfaziam mitos associados às bruxas. O trabalho de divulgação foi pioneiro, pois poucos wiccanianos se dispunham a falar abertamente diante das câmeras e microfones.

Após a morte de Arnold em 1974, Patricia seguiu sua missão sozinha, tornando-se uma das principais vozes femininas da Wicca ao lado de nomes como Doreen Valiente, Lois Bourne e Eleanor Bone. Seu estilo mesclava disciplina ritualística com sensibilidade poética, e ela mesma afirmava que música e poesia tinham lugar central nos ritos. Sua visão enfatizava que a Wicca não era apenas um sistema de magia, mas também um caminho de evolução da alma.
Entre suas obras mais notáveis estão The Witches Speak (1965), escrito em parceria com Arnold, e Witch Blood: The Diary of a Witch High Priestess (1974), um dos primeiros testemunhos pessoais de uma sacerdotisa moderna. Em Lid Off the Cauldron (1981), ela ofereceu um guia prático da Wicca, destinado tanto a iniciados quanto a curiosos. Já em The Zodiac Experience (1992) e The Secrets of Ancient Witchcraft with the Witches’ Tarot (1992), explorou a ligação entre astrologia, tarô e espiritualidade. Sua autobiografia, One Witch’s World (1998), publicada também sob o título High Priestess, consolidou sua trajetória como referência no movimento wiccaniano. Outras obras, como From Stagecraft to Witchcraft (2002) e Covensense (2009), revelam sua habilidade em unir vivência pessoal e ensinamentos práticos.

Curiosamente, dentro do círculo, Patricia adotava o nome mágico “Thelema”. Também afirmava ter lembranças de vidas passadas, entre elas a de uma mulher chamada Polly, uma bruxa do século XVII, o que reforçava sua convicção de que sua vocação atravessava séculos. Em sua maturidade, passou a se apresentar como “Avó do Ofício dos Sábios” (Grandmother of the Craft of the Wise), um título simbólico que refletia não apenas a idade, mas a autoridade espiritual conquistada com décadas de prática e ensino.
Embora fosse reverenciada por muitos, Patricia também enfrentou críticas dentro do próprio meio esotérico, pois havia quem a acusasse de revelar demasiados segredos da Arte para o público. Ainda assim, sua postura firme contribuiu para que a Wicca fosse mais bem compreendida pela sociedade, ao mesmo tempo em que inspirava novas gerações de praticantes.
O legado de Patricia Crowther não se resume aos livros e entrevistas. Ele se estende a todos os covens que surgiram a partir de suas iniciações e aos praticantes que, mesmo sem tê-la conhecido, foram tocados por sua obra. Com ela, a Wicca se fortaleceu como religião e prática espiritual reconhecida mundialmente. Sua morte em 2025 marca o fim de uma era, mas também nos lembra que as sementes plantadas por ela continuarão a florescer.
Patricia será lembrada não apenas como Alta Sacerdotisa, mas como mulher de arte, palavra e coragem, que abriu caminhos para que a bruxaria se tornasse uma tradição respeitada e viva.
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